terça-feira, 22 de setembro de 2015

Diário de Classe das Oficinas Literárias de agosto e setembro de 2015. Edna Domenica Merola.

No semestre 2015.2, as Oficinas Literárias realizadas no Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI, UFSC) tiveram por foco didático o gênero literário epistolar e por fundamentação a teoria moreniana de papéis. Escrever cartas, portanto, adquire novos significados tais como os relativos ao desempenho de papéis (resgatar, atualizar, desenvolver, criar). O curso iniciado em agosto, alcançou ao final de setembro o seguinte traçado:
Desenho Didático de autoria da Professora Edna Domenica Merola


Emissor e destinatário alternaram os papéis de escritor e leitor, na experiência de ensino-aprendizagem quanto ao gênero epistolar. Já quanto ao gênero dissertativo, um leitor 'escolheu' uma carta escrita por um colega e assumiu o papel de comentarista do texto (carta).

Átomo Social

Retrata o conjunto de papéis que uma pessoa desempenha num dado momento de sua existência, incluindo os complementares desses papéis.
O desenho do átomo social foi usado como aquecimento para escrita de memórias de infância, tendo por foco a conscientização dos papéis e dos complementares. A técnica de redação usada foi a de uma carta. No exemplo que será dado, a emissora é uma criança que escreve, em 7/9/1945, para destinatária (que é ela mesma, já senhora) em 7/9/2015.
"O termo Psicodrama origina-se do grego, sendo drama correspondente a ‘ação’, e psique (psykh) significa: alma, pessoa, mente." O papel psicodramático está ligado ao faz de conta. No átomo social de uma criança seres tais como Papai Noel, Menino Jesus, um Amigo Imaginário são exemplos de complementares de papéis psicodramáticos.

REFERÊNCIAS:

MORENO, J.L. Psicodrama. 2 ed, São Paulo: Cultrix. 1978.


Exemplo de Átomo Social Tempo Passado (Carta de Autoria de Marli Barcelos)

A carta abaixo foi escrita após exercício de registro dos papéis sociais desempenhados pela autora aos 10 anos de idade:
1- irmã de onze pessoas, sendo os mais próximos: Jaime, Maria, Marlene e Marina;
2- afilhada de Érica;
3- ajudante de Olavo;
4- cidadã de Corruchel;
5- visitante de parentes e amigos dos pais.
É ainda mencionado o papel de devota do Menino Jesus (papel psicodramático).

Carta da "Menina" Marli

Corruchel, 07 de setembro de 1945.
Caros Colegas do Futuro,
Meus 10 anos são intensos de quanto brinco. Somos doze irmãos. Os irmãos mais próximos: Jaime, Maria, Marlene e Marina.
Ajudo nas tarefas, e aos domingos brincamos de casinha e de bonecas de pano, de comadre,fazemos altar e cantamos, rezamos e tem um padre.
Moro com minha madrinha Érica e Ana, é muito bom! Mesmo assim sinto saudade de casa. Nesses dias, recebi uma carta de um amiguinho, ele se diz apaixonado, tem 14 anos, se chama Olavo.
Descobri também quem é menino Jesus, e também de onde vem o bebê.
Breve vou voltar para a casa para ser ajudante do meu irmão Jaime. Ele faz bicicletas de madeira para brincar.
O lugar onde moramos se chamava Carrossel, mas devido à chegada dos imigrantes alemães eles pronunciam como Corruchel.
 Minha infância será legal, meus pais nos levarão para passear de carro de mola, nos lugares longe de onde moramos. As viagens serão de três a quatro horas, visitaremos parentes e amigos.
Muitos anos se passarão até nos conhecermos, em Florianópolis. Até lá!
Atenciosamente, Marli Barcelos da Costa.


Florianópolis, 07 de setembro de 2016.
Menina Marli,

Fui eu que ‘achei’ a sua carta! Achei muito divertido “brincar com o tempo”! E instrutivo: pesquisei para saber que o Distrito de Corruchel pertence ao Município de Pouso Redondo, SC.
Gostaria muito de andar de carro de mola com você e seus irmãos. Deve ser legal! Estou aqui numa sala de aula do Núcleo de Estudos da Terceira Idade do qual sou professora voluntária. Fica numa ilha que cabe dentro da cidade que é capital do Estado de Santa Catarina.
Você está com 10 anos de idade; acho que já estudou esses pontos de Geografia... E sabe o que é uma ilha... Mas acho que ainda não conhece o mar... Então vou contar como é aqui.
Em Floripa, tem belas e inúmeras praias. As pessoas idosas frequentam bailes, concertos, cinemas. Tomam banhos de mar! São saudáveis e bem alegres!  Alguns habitantes atuais de Florianópolis vieram de fora. O sotaque das pessoas que viveram a infância no interior catarinense faz-me lembrar dos antigos moradores dos bairros da minha cidade natal onde predominavam imigrantes... Os italianos da Mooca... E do bairro do Bexiga... Os alemães do Campo Belo...
Curta bem seus momentos em família. Valorize o estágio de aprendizagem profissional que seu irmão lhe proporciona. Hoje em dia é necessário estar cursando a universidade para conseguir uma vaga de estagiária!
Espero que continue firme na sua fé no Menino Jesus. Aguardo você.
Um abraço, da Professora Edna.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Primeira Carta aos Participantes do semestre 2015.2 das Oficinas de Criação Literária do NETI. Edna Domenica Merola.

Cara (o) Aluna (o) do Curso Oficinas de Criação Literária do NETI,

O objetivo desta carta é convidá-lo a participar de um debate sobre os significados que os participantes estão atribuindo ao seu processo de aprendizagem e que tiveram por pano de fundo os encontros semanais, nas oficinas de agosto. 
A organização do texto desta carta partirá de algumas considerações que relatam e descrevem a participação do grupo de inscritos, durante o primeiro mês do semestre, e delineiam os limites dos trabalhos elaborados em três oficinas com duração de 02 horas cada (06 horas presenciais). 
O texto da carta prosseguirá com um rol de questões e finalizará com links para leitura de textos sobre o gênero literário que estamos estudando.

I- Considerações Preliminares:
1- Dado o grande número de textos produzidos pela turma de alunos do semestre 2015.2, elaborei um rol para que os participantes tenham alguma dimensão deste todo ainda embrionário que é o grupo das Oficinas

Autor(a)
Emissor (a)
Destinatária (o)
Papéis Sociais
Adalberto
Adalberto
Edna
Professora e aluno
Adroaldo
Adroaldo
Edna
Professora e aluno
Antonieta
Antonieta
Edna
Professora e aluna
Beduína
Beduína
Edna
Professora e aluna
Bernadete
Penélope
Edna
Professora e aluna
Cristina
Cristina
Edna
Professora e aluna
Zélia
Zélia
Edna
Professora e aluna
Nilza
Nilza
Edna
Professora e aluna
Adroaldo
Adroaldo
Adalberto
Colegas de oficina literária
Bernadete
Penélope
Martinha
Amigas
Marli
Marli
Irmã
Irmãs
Nilza
Nilza
Jane
Amigas

Autor(a)
Emissor (a)
Destinatária (o)
Papéis Psicodramáticos
Adalberto
Adalberto
Deus
Fiel e Deus
Adroaldo
Adroaldo
Dirigente de grupo de dança gaúcha de salão
Dançarino e instrutor de dança gaúcha
Antonieta
Antonieta
Erasmo Carlos
Fã e ídolo da Jovem Guarda
Antonieta
Antonieta
Paloma
Escritora e leitora
Cristina
Cristina
Professora R.C.
Professora e autora de livro
Nilza
Poeta
Elizete Cardoso
Elizete Cardoso e Poeta

2- Considerando a natureza das aulas que ministro no NETI terem por prioridade (durante um semestre) somente um dentre os três focos: 
Jogar e desenvolver o papel psicodramático de narrador;
Jogar e desenvolver o papel psicodramático de 'eu lírico';
Jogar e desenvolver os papéis de leitor e escritor – inseridos no contexto de oficinas literárias. Vivenciar a complementação dos papéis de leitor e escritor, no contexto de oficinas literárias. (MEROLA, 2015)
3- Considerando que a professora Edna "adota"  o que segue:
"O ensino-aprendizagem da escrita literária, quando recorre a vivências e experimentação, é adequado ao formato de oficinas. Uma oficina tem por foco a reflexão sobre a própria prática educativa da (o) participante, o que pressupõe que ela (ele) esteja desempenhando o papel em pauta e se disponha a realizar as propostas apresentadas pela ministrante e compartilhar com colegas os seus resultados. A oficina literária é o espaço onde são oferecidas atividades práticas de criação pela palavra, proporcionando novos conhecimentos e vivências e instalando o hábito de exercitar frequentemente a escrita. A ação docente se coloca por meta interferir na percepção do aluno-escritor sobre a leitura e a feitura em suas facetas emocionais e relacionais." (MEROLA, 2015).

II- Preparo de participação em debate
A- Reflexão sobre algumas questões:
1-    Qual o gênero literário que estamos estudando no Curso Oficinas de Criação Literária do NETI?
2-    Para que serviam as cartas antes de ser inventada a imprensa?
3-    Como as cartas são trocadas na sociedade contemporânea?
4-    Fotos instantâneas trocadas por celulares relatam fatos?
5-    Considerando que o uso da palavra escrita no relato de fatos não esgota o que uma carta pode conter, pergunta-se: para quê identificar os papéis que os emissários e destinatários desempenham numa carta?
6-    Por que é importante termos consciência de que somos atores sociais? Essa consciência pode ajudar a resgatar o espaço social a ocupar após a aposentadoria?
7- Haveria uma utilidade didática e/ou existencial em escrever uma carta na qual o emissor fosse alguém diferente do autor? E em relação a escrever a um destinatário inventado ou construído? 
8- Qual o foco das aulas que você assistiu: 
(  ) Jogar e desenvolver o papel psicodramático de narrador;
(  ) Jogar e desenvolver o papel psicodramático de 'eu lírico';
(  ) Jogar e desenvolver os papéis de leitor e escritor

9- Qual o tempo que tem gasto, semanalmente, com as tarefas das oficinas?

B - Leituras complementares nos links   

http://pt.scribd.com/doc/15698960/O-GENERO-EPISTOLAR#scribd

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ep%C3%ADstola 

http://ivanleite09.blogspot.com.br/2011/09/genero-textual-carta-texto-epistolar.html 

http://comunicacaocajamar.blogspot.com.br/2009/04/generos-epistolares.html




 REFERÊNCIA

MEROLA, E. D. Pedagogia do Psicodrama: a ação do grupo no desenvolvimento de papéis das pessoa idosa. Monografia do Curso de Especialização em “Atenção à Saúde da Pessoa Idosa”,CCS,  NETI, UFSC. 2015.

Síntese

"A carta é um texto escrito no qual alguém transmite uma informação a um destinatário ou leitor, que interpreta o sentido e assume determinada atitude diante da informação recebida." [Enciclopédia do estudante; Vol. 08; pág. 156.]
Antes de ser inventada a imprensa, as cartas a substituíam. Cartas serviam e servem para relatar ou representar pela palavra as experiências vividas, situando-as no tempo.
Na sociedade contemporânea, as cartas são trocadas via correio ou meios eletrônicos digitais, variando de acordo com o seu propósito e conteúdo e com a pessoa a quem são dirigidas (destinatários). A linguagem usada numa carta determina o seu tipo: entre amigos; comercial; propagandística; familiar; informativa; literária (reflexo dos sentimentos e sensações do autor ou de personagens de uma obra literária); social (convites); de agradecimento; de felicitação (bodas, aniversário, formatura), de pêsames.
 Fotos instantâneas trocadas por celulares relatam fatos. Corre-se o risco de que os fatos sejam deturpados pela fragmentação, podendo servir para "bulling" ou propaganda enganosa. 
A carta vai além de relatar fatos, pois registra a natureza das relações entre emissários e destinatários. Registra, em alguns casos, a natureza dos vínculos existentes entre eles. 
É importante termos consciência de que somos atores sociais. Essa consciência pode ajudar a resgatar o espaço social a ocupar após a aposentadoria. Desta feita, haveria uma utilidade didática e existencial nas oficinas de escrita de cartas. Quando o emissor é alguém diferente do autor, e quando um destinatário é inventado ou construído, estamos num contexto de escrita literária, no sentido de criação ficcional.
O foco das aulas dadas durante o mês de agosto foi o de jogar e desenvolver os papéis de leitor e escritor.