terça-feira, 26 de abril de 2016

"Diálogos da Maturidade". Edna Domenica Merola



Mariana Rotilli
Diálogos da Maturidade é o título de um livro que inclui cartas que foram escritas por um aluno e pela professora das Oficinas de Criação Literária do N.E.T.I. 
A jovem Mariana Rotili  participou na criação da capa. 
E nos bastidores do livro, a UFSC como gestora do projeto de extensão universitária (aberto à comunidade) “NETI” ‒ Núcleo de Estudos da Terceira Idade  ‒ para alunos acima de 50 anos. 
Diálogos da Maturidade leva ainda palavras que parecem nos sorrir: marca registrada da Dra. Jordelina Schier (Nina - coordenadora do NETI). Transcrevo a seguir:


Sobre a produção do livro Diálogos da Maturidade
                No segundo semestre de 2015, ao ministrar oficinas para participantes maiores de 50 anos, deu-se prosseguimento a essa pesquisa/ação cujo registro redundou no livro Diálogos da Maturidade.
         As ações pedagógicas das oficinas têm por meta aprimorar e favorecer o desempenho cognitivo, sócio-afetivo e sócio-existencial de pessoas maduras e idosas.
          As estratégias das oficinas são elaboradas pela professora para que alunos treinem a habilidade de estabelecer vínculos, estreitem a relação com a própria interioridade, e conheçam dados culturais novos.
            Nessas oficinas, o ensino tem por fundamentação a Socionomia: fruto da pesquisa e criação de Jacob Lévi Moreno, para quem – corpo, psique e sociedade são partes intermediárias do eu total.        O eu é um constructo aberto ‒ em constante construção dialógica ‒ que abrange os papéis psicossomáticos, psicodramáticos e sociais.
            Nas oficinas, a ação pedagógica reporta-se ao jogo dos papéis sociais que envolvem a escrita ou ao treinamento dos papéis de escritor e de leitor.
            Refere-se ainda ao treino de papéis psicodramáticos ou ao desbloqueio da imaginação e das competências lúdicas.
       A complementação de papéis tem por foco o diálogo ou as interações entre o papel social de escritor e seus complementares, tendo por meta o desenvolvimento do vínculo entre papéis.
             Segundo Moreno (1974), o Átomo Social é o conjunto de papéis que uma pessoa desempenha num dado momento de sua existência, incluindo os complementares desses papéis.
            No segundo semestre letivo de 2015, as Oficinas de Criação Literária que realizei tiveram por meta o ensino do gênero epistolar no qual há premência da comunicação entre emissor e destinatário, o que aponta para a cumplicidade, imprimindo ao discurso certo teor de exposição e de proximidade.
            Na primeira unidade didática das Oficinas Literárias 2015.2 as cartas de apresentação ao grupo foram trocadas entre os papéis complementares de professora e de aluno (a).
            Na segunda unidade, a proposta foi a de escrever uma carta cujo emissor se localizasse no tempo passado (menino/menina) e que fosse endereçada ao próprio destinatário no tempo presente (senhor/senhora).
            Durante as oficinas, foram retomados para fins de produção escrita os átomos sociais de dois momentos de vida dos participantes: a infância e a atualidade.
            O desenho de um Átomo Social foi aplicado como técnica de aquecimento para a tarefa.
            No átomo social referente à infância, menções a seres tais como Papai Noel, Menino Jesus são exemplos de complementares de papéis psicodramáticos que são interligados às capacidades de imaginar e de acreditar.
            A unidade Cartas sobre Leituras incluiu trechos do livro Iracema (ALENCAR, 2008). A jandaia e o cão rafeiro alencarianos foram transformados em personagens de carta pelo aluno/escritor, agregando a fábula ao gênero epistolar.
            A referida unidade incluiu ainda textos de A Volta do Contador de Histórias. (MEROLA, 2011) que foram selecionados pelos alunos.
            Na unidade Cartas Psicodramáticas, trabalhou-se a conexão entre a leitura da realidade externa e da introjetada.
            A unidade sobre elementos da estrutura narrativa, criação de personagens e narrador ‒ remete ao título Cartas em Posfácio que tive de produzir a toque de caixa, durante o escaldante janeiro de 2016.   Acontece, cara amiga, que houve uma disputa entre dois possíveis coautores logo após a entrega dos originais à editora. Dessa contenda houve a retirada de uma coautora que produzira cinquenta páginas. Resolvi entrar com meus escritos para substituí-la. Sorte ou azar é que sempre tenho um verdadeiro estoque de materiais em estado de produção e os adaptei para tentar contemporizar a impeditiva da publicação e não amargar uma frustração. Coisa a que me nego, quando se trata de produzir criações.
            Em Diálogos da Maturidade ‒ cartas brasileiras ‒ publicadas sob o ISBN 978-85-62-598-50-0, dei expressão a diversos papéis que desempenho: o de professora, o de pesquisadora e o de artesã da escrita criativa.
            No papel de professora, continuou-se o projeto de pesquisa/ação sobre como incentivar a criatividade na escrita.
            Nos papéis de aluna e pesquisadora, teve-se o N.E.T.I. por lócus privilegiado para aplicar conhecimentos advindos do Curso de Especialização em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa, concluído no primeiro semestre de 2015.

            Como escritora, teve-se o privilégio do diálogo com o leitor sobre História de Amor, História de Sala de Espera, Conto em “Pas de Deux”, (MEROLA, 2011, p. 37-41, 57-59, 77-80).


Sumariando, Diálogos da Maturidade apresenta oito tipos de cartas:
1- apresentação à professora das Oficinas de Escrita Criativa; 
2- carta endereçada ao Túnel do Tempo; 
3-carta destinada a pessoa com quem se tem laços afetivos
4- carta a um ser psicodramático; 
5- carta para  a autora de um texto lido; 
6- carta a um personagem inventado;
7- carta a um objeto (como num apólogo); 
8- cartas em posfácio que complementam o prefácio e abrangem temas didático das referidas oficinas idealizadas pela Professora Edna Domenica Merola.


REFERÊNCIA

ALENCAR, José de. Iracema. Domínio Público.

MEROLA e SILVEIRA.  Diálogos da Maturidade. Florianópolis: Postmix, 2016.

MEROLA. A Volta do Contador de Histórias. Nova Letra, 2011.


sexta-feira, 22 de abril de 2016

Cartas de Oficinas de Escrita Criativa 2016.1. Edna Domenica Merola



Porto Interrogativo, 3 de julho de 2015.
Cara professora,

É verdade que quem conta um conto aumenta um ponto? 

A Sonhadora.




Porto Informativo, 03 de julho de 2015.          
Cara Sonhadora,

Segundo Huizinga (2000), as funções da linguagem são as de “comunicar, ensinar e comandar”.
Reconhecer tais funções implica em pensar que a escrita é representação da realidade pelo viés da ‘voz’ do narrador, quer seja ele um historiador contemporâneo ou um cronista pretérito diretamente subordinado a um poderoso rei.
A representação da realidade é cristalizada pela escrita. No entanto, a escrita literária não se obriga a estabelecer contrato de fidelidade com a realidade compactuada.
Narrar é inventar (iludir), já que a narrativa ficcional “privilegia apenas um ou dois pontos de vista a partir dos quais a história pode ser contada e concentra-se no modo como os acontecimentos afetam esses pontos de vista.” (LODGE, 2011, p 36).
Para ilustrar, o impacto que o ponto de vista tem sobre a narrativa, exemplifica-se pelo “efeito Rashomon”.
O filme Rashomon, dirigido por Akira Kurosawa, apresenta o Japão do século XI. Durante uma forte tempestade, um lenhador, um sacerdote e um camponês encontram abrigo nas ruínas de Rashomon. O sacerdote conta detalhes de um julgamento que testemunhou: trata-se do estupro de Masako e do assassinato do samurai Takehiro, marido dela. O julgamento do bandido Tajomaru é mostrado em flashback. Há quatro testemunhos. Cada relato mostra um ponto de vista único e conflitante com os demais. A tese implícita no filme é a de que cada narrador apresenta sua verdade sobre a mesma história. A expressão: “efeito Rashomon” quer dizer que nunca há uma mesma história; se houver diferentes narradores, o que há é uma suposição de uma mesma história.


Abraço, da Professora.


Porto Interrogativo, 3 de julho de 2015.
Cara professora,

Qual é a qualidade de escrita esperada em suas oficinas? É necessário pesquisar para escrever? E quanto aos aspectos formais? 

A Aluna.

Florianópolis, 09 de maio de 2016.
Cara aluna,

Se você é do tipo que detém bom conhecimento de determinado assunto, poderá colocá-lo em sua narrativa. Imagine que seu leitor é inteligente, curioso e receptivo, mas não um intelectual.
Se você tem medo de errar, liberte-se dele. Conscientize-se do que pode alcançar.
Se estiver insegura quanto à adequação do que aprendeu no passado, talvez queira algumas dicas: 
Escreva períodos curtos e parágrafos com poucos períodos.
Os períodos e parágrafos pequenos devem ser iniciados com o sujeito da oração para ajudar na clareza e concisão da narrativa.
Para aprender a criar personagens, deve escrever sobre a vida humana e não sobre a própria vida. 
Para uma iniciante, escrever autobiografia é como querer aprender a correr, antes de engatinhar. O narrador em primeira pessoa é um personagem e deve ser 'inventado'. Una lembranças a dados estatísticos. Ex.: Na sua infância, os brinquedos de vinil eram raros e os eletrônicos inexistentes? Como isso acontece no presente? Narre algum fato interessante sobre brincadeiras.
‒ Prepare-se para tolerar abstrações e enfrentar dificuldades durante o processo de aprendizagem das técnicas de narração. 
A narrativa em terceira pessoa também não garante facilidades para a escrita, quando o narrador permanece na posição narcisista.
A autora iniciante deve construir um narrador que não fique "olhando só para o próprio umbigo" o que poderia deixar sua narrativa pobre.
 Mostre claramente qual é a perspectiva da narrativa: incorpore as lições de Kurosawa em Rashomon, parta da pluralidade social. 
O narrador é o bandido, o Samurai, a representante do gênero feminino? É o empresário do agronegócio, o investidor da bolsa de valores, a dona de casa que vai ao supermercado? É o desempregado?
Por exemplo, se inventar um narrador para contar o impeachment do presidente Collor, ele terá de optar por uma perspectiva de quem teve seu dinheiro bloqueado ou pela perspectiva de quem conseguiu se safar do bloqueio e se deu bem. Nesta perspectiva, safou-se porque estava próximo ao governo e foi avisado de que haveria o "pacote econômico" ou porque não detinha recursos financeiros acumulados? A partir do narrador pode-se inventar seu antagonista.
Quem adotar Machado de Assis por modelo revelará isso no primeiro parágrafo, como ele o fez no conto Missa do Galo. Ex.: “Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta." (ASSIS, M.).
A principal dica:
‒ Creia no seu potencial de leitura e de escrita.
                                                A Professora.


Florianópolis, 22 de abril de 2016.
Caras Alunas e Caros Alunos da Oficina de Escrita Criativa,

Desejo que estejam todos muito bem! Estamos, pouco a pouco, tecendo nossos laços de ensino-aprendizagem. Considero que os ingredientes principais desse trabalho artesanal são: a paz cordial, a tranquilidade nos contatos, a compreensão tolerante, a lucidez nas atitudes...
Ao encerrar a primeira unidade do plano de ensino da Oficina de Criação Literária parabenizo, com alegria, os que: assistiram às três aulas dadas; enviaram duas tarefas: a- narração de sua chegada a Florianópolis (quer por nascimento ou mudança); b- narração de um fato marcante, associando-o a uma música; publicaram no blog Netiativo e responderam a todas as perguntas do questionário dado.

Atenciosamente, a professora.


Florianópolis, 15 de maio de 2016.
Caros alunos da turma 2016.1,

Após as leituras referentes à Oficina de Criação Literária, desliguei o computador e fui ao teatro. Após assistir a peça O Avaro ‒ produção espanhola trazida para SC pelo Fita Floripa, tive um sono bem tranquilo e, ao acordar, havia um refrão novo cantando na minha cabeça que queria 'puxar' um texto.
Era a frase: "tomo da tua palavra e me deleito dela". Que inspiração "saia justa"! O correto seria dizer "tomo tua palavra e me deleito com ela". Mas refrão é algo que bate à nossa porta, que grita e chora até ser amado... Alguém queria tomar a palavra? Ouvi...

Blogblogblog!

Tomo da tua palavra: e centro o dia contigo
Tomo da tua palavra: curto circuito engraçado
Tomo da tua palavra: nesta rua daquela infância
Tomo da tua palavra saudosa filha de mãe Além
Tomo da tua palavra: bananas e cebolas
Tomo da tua palavra ponte caloura para a H. Luz
Tomo da tua palavra: desconfiança civil...
Tomo da tua palavra bêbada equilibrista
Tomo da tua palavra bule derramado
(Culpado? O cachorro de rabo preto da roça de Orleans)
Tomo da tua palavra: larva que passa como uma onda no mar
Tomo da tua palavra e Blogblogblog!
Tomo da tua palavra e me deleito dela.

Caros alunos da turma Oficina de Criação Literária  2016.1, estamos no momento do curso em que tomo da tua e da minha palavra e faço um leito com elas. Nesse rio, rio/rimos... Que lá vem mais alegria textual!


REFERÊNCIA

MEROLA. Cartas em Posfácio in Diálogos da Maturidade. Florianópolis: Postmix, 2016.

domingo, 17 de abril de 2016

Longe de Casa, mas perto de ***. Organização: Edna Domenica Merola.

O que sente ao olhar os bancos vazios de uma praça?

Florianópolis, 04 de abril de 2016.
Oi, Edna,

No semestre passado, recebemos seu contato, com a proposta de um contato entre a Oficina Literária do NETI e o projeto Longe de Casa. Naquela ocasião, não conseguimos viabilizar a parceria, mas, agora, com o início de mais uma edição do projeto, nós nos lembramos dessa possibilidade e gostaríamos de verificar se ainda há o interesse.
Como os encontros do Longe de Casa não estão baseados na questão literária, pensamos se seria possível mantermos este contato de uma forma pontual, dentro do projeto.
Uma possibilidade seria que, caso haja interesse por parte dos integrantes da Oficina Literária do NETI, eles, enquanto grupo, enviassem uma carta coletiva aos integrantes do Longe de Casa, contanto sobre suas experiências com o processo de ambientação a Florianópolis e com a construção de uma nova rede de apoio (a senhora havia nos contado que grande parte dos integrantes veio de fora de Florianópolis) e com a experiência das saudades do ponto de vista daquele que fica (já que nos contou também que parte dos integrantes têm filhos que saíram de casa para ingressar no Ensino Superior).
A carta seria entregue no encontro que falará sobre rede de apoio ou saudades, o grupo leria em conjunto e responderia a carta, também de forma coletiva, para entrega aos integrantes da Oficina Literária do NETI. 
Os encontros do "Longe de Casa: e Agora?" terão início no dia 12/04, próxima terça-feira e estão previstos 6 encontros: 12/4, 19/4, 26/4, 3/5, 10/5 e 17/5. Não sabemos ainda ao certo em qual data será tratado o tema das saudades, pois, na metodologia que utilizamos, são os participantes que escolhem a ordem dos temas no primeiro encontro. Sabemos que não será nos dias 12/04 e 17/05, porque são encontros de início e de encerramento do grupo.
Talvez esta proposta possa ser levada aos integrantes da Oficina Literária e, caso haja interesse, então, nos organizaremos para viabilizar a parceria neste semestre.
Pensamos que é importante lembrar que o propósito do projeto "Longe de Casa: e Agora?" é o de acolhimento dos estudantes ingressantes e de auxílio para a ambientação à universidade. Quando abordados a questão das saudades é como suporte para que o sentimento não seja paralisante ou um obstáculo para concretizar o projeto que se inicia com a vinda dos estudantes para cursar o Ensino Superior. É importante que a carta produzida pelo grupo possa oferecer aos estudantes outros olhares sobre as saudades, e não apenas tristeza, como muitas vezes acontece.
Quando você fala que irão compilar as cartas individuais, isso é feito com a participação do grupo? Imaginamos que sim, acreditando ser importante que o "produto final" seja de autoria coletiva. A nossa proposta também é a de que a resposta venha como uma produção coletiva.
Obrigada e abraços,
                           Lara e Elisa


Florianópolis, 04 de abril de 2016.
Oi, Lara e Elisa,

Na oficina de literatura e escrita criativa, a prioridade é a linguagem escrita (atividades: ler e escrever). A fala espontânea é trabalhada no “Jogo psicodramático”, de modo que atividades do tipo fórum, mesa redonda, assembleia sejam feitas “no lúdico”.  A construção coletiva de algo escrito no aqui-e-agora é uma atividade que deixaremos para o final do semestre. 
Costumo dar a tarefa de escrita para casa. Recebo via e-mail ou em mãos na semana posterior à aula dada (as aulas ocorrem às quintas-feiras). 
Postarei as cartas dos alunos sobre o assunto em pauta no nosso blog até o dia 18 de abril. 
Abraço, da Edna.

Florianópolis, 15 de abril de 2016.
Oi, pessoal do Projeto Longe de Casa (E Agora?),

A essa altura, podem estar se perguntando: "Quem são os alunos do NETI?"

Segundo Tiago Dias da Silva (Mestre em Administração pela UFSC), dentre os 876 alunos do NETI, 456 são provenientes de cidades de SC, 192 do RS, 82 de SP, 30 do RJ, 29 do PR, 18 de MG, 11 da BA. Os restantes dividem-se de forma inexpressiva ou nula dentre os demais estados da União.  No NETI, não  há alunos nascidos no DF, nem RO, SE e TO. 
Sobre os alunos da Oficina de Escrita Criativa pesquisamos o tempo de residência na cidade. O que pude saber até o momento: 78,26 % dos alunos têm de 50 a 65 anos. 13,04 % nasceram em Floripa. 86,96 % vieram de fora13,04 % são residentes de 2 a 3 anos. 28,57 % são residentes de 5 a 11 anos. 8,70 % residem de 28 a 30 anos. 43,48 % residem em Florianópolis de 37 a 48 anos. 64,71% assistiram ou ministraram aulas nos últimos 5 anos. 
As cartas que alguns alunos escreveram para vocês referem-se não só à adaptação a uma situação nova, mas também a alguns problemas urbanos, tais como o de transporte coletivo, a ligação entre a ilha e o continente, a balneabilidade de locais que foram praias naturais, a exemplos de Coqueiros e da Lagoa da Conceição.  Tudo isso, a meu ver, escrito com muita generosidade. Envio para sua leitura.
Com um abraço, da Edna.


Florianópolis, 7 de abril de 2016.
Olá, aluna (o) da Oficina de Escrita Criativa do NETI,

O setor Psicologia/ PRAE tem um projeto denominado "Longe de Casa (e agora?)". Reúne alunos da UFSC cujas famílias vivem em outras cidades. Fomos convidados para escrever para eles. 
Encaminho o convite com o mote "Longe de Casa, mas perto de *** que aponta para refletir sobre como cada um escolheu (e escolhe ainda) esta cidade para residir.
Os textos em formato de cartas serão enviados por e-mail e revisados para publicar no nosso blog.
O que acha de aceitar esse convite de escrita? Já aceitou? Então, após escrever, envie seu texto para mim.
Aguardo seu trabalho, 
                                     Edna.

  
Florianópolis, 12 de abril de 2016. 
Caros Calouros,

Em 1976, passei no vestibular da Universidade Federal de SC para o curso de Odontologia. Começava então uma nova etapa da minha vida, onde tive que me virar só, longe de casa, longe de Orleans. A primeira barreira foi vencer minha timidez. Depois vieram as questões a resolver, quanto seria o gasto, onde, e com quem morar? Como me deslocar para as aulas, meus pais poderiam me manter?
No dia que vim a Florianópolis para a matrícula no curso, conversando com outras pessoas sobre moradia, alguém me recomendou um lugar, uma pensão para moças na Avenida Mauro Ramos.
Assim tudo foi se encaminhando.
A pensão para moças foi meu lar longe de casa, onde dividia o quarto com outras três estudantes, e a casa com outros mais, pois mais quartos eram ocupados por estudantes de vários outros cursos.
A senhora, dona da pensão, pessoa acolhedora, séria e correta estava sempre pronta para ajudar suas meninas pensionistas, o que para mim foi um porto seguro, onde morei até o dia da minha formatura.
Foi muito boa minha convivência durante este período de estudante. As dificuldades foram superadas com esforço e restaram boas recordações de noites em claro estudando, de companheirismo, de conselhos, de desabafos, de choros, de festas e de amizades.
O final feliz: a profissão que amei.
                                         Terezinha Lolli Savi (60 anos).


Florianópolis, 12 de abril de 2016.
Caríssimos,

Minha experiência de adaptação em Florianópolis, não foi das melhores.
Saí de uma cidade pequena no sul do estado de Santa Catarina, para iniciar meus estudos na UFSC, em março de 1974, e fui morar numa “república de estudantes”. 
Era uma casa de três dormitórios e apenas um banheiro, onde morávamos em nove estudantes. Eu como calouro, de início sofri um pouco, isso porque tive que me sujeitar ao que sobrava, pois as melhores acomodações já estavam reservadas aos veteranos. Não bastasse isso, como de costume, era comum discriminar os calouros, eu também não fui poupado dessa abominável tradição.
Com o tempo as coisas foram melhorando, até que chegou o segundo semestre, e o estigma de calouro desapareceu. Mesmo assim muitas barreiras demoraram a ser vencidas: a distância e a saudade de casa, dos familiares, dos amigos, principalmente nos finais de semanas, era motivo de muita angústia.
Quantas e quantas vezes me passou pela cabeça: vou desistir dos estudos e vou fazer concurso para o Banco do Brasil.
Naqueles tempos trabalhar no Banco do Brasil era o sonho de muitos jovens.
Certa vez quando fui visitar meus familiares troquei ideias com meu pai a respeito dessa situação, e ele foi enfático.
‒ Continue a estudar, que eu vou te ajudar até a formatura.
Desse dia em diante dediquei-me a o máximo, e com a Graça de Deus consegui formar-me Engenheiro.
Hoje só tenho a agradecer a todos que de um modo ou outro me ajudaram nessa conquista.
                    Vânio (62 anos).


Florianópolis, 16 de abril de 2016.
Caros Calouros,

Vou contar um pouco da minha história.
Nasci na Serra Catarinense, onde cresci e estudei, saindo de lá com 17 anos.
Meu pai era funcionário público, mudou-se para Florianópolis e trouxe minha mãe e meus irmãos menores. Cheguei em dezembro, alguns meses depois, época de muito calor e sentia muito sono. Tive que me adaptar ao clima, aos costumes, aos nossos vizinhos, enfim, à maneira de viver aqui.
Morávamos em Coqueiros, aonde eu e meus irmãos íamos à praia diariamente. A areia era quente de queimar os pés, quando descalços. Às vezes víamos peixes, siris, camarão que os pescadores traziam. Também estrelas do mar e ouriço. Tudo era novidade, pois estávamos acostumados com as espécies de água doce.
Não sabia nadar, mas aos poucos fui entrando na água que era salgada e quente, muito gostosa. Aprendi com nossos amigos que primeiro era preciso aprender a boiar para depois nadar e assim podia ir mais longe no mar.
À noite conversávamos na praia, com os amigos, e meu irmão tocava violão, ali ficávamos até quase meia noite, hora estabelecida para voltar para casa, sem muito barulho.
Em março do ano seguinte iniciei os estudos no segundo ano do normal, hoje classificam como magistério. Não tinha muitas amigas, mas as amizades que fiz permanecem até hoje. Ia ao colégio de ônibus, que demorava em torno de quarenta e cinco minutos, a estrada era de chão e passava pela ponte Hercílio Luz, a única na época ligando o continente à ilha.
Eu questionava muito o fato de ter mudado de cidade, mas depois que comecei os estudos, fiquei mais tranquila, estudava, dava aulas particulares para crianças com dificuldades de aprendizagem.
Fui professora de adultos à noite, no Bairro de Coqueiros, e aprendi que disciplina e boa vontade andam juntas, não tinha medo, apesar de meus pais ficarem preocupados. Nessa época não havia tanta violência como atualmente.
Continuei os estudos, trabalhei e hoje sou aposentada.
                                                                    Cleide (69 anos).


Florianópolis, 19 de abril de 2016.
Caros calouros,

Como vim parar em Florianópolis? Nascida no interior do Estado do Paraná, onde vivi até meus 14 anos, vim para Santa Catarina, inicialmente, para São Francisco do Sul, onde morava meu irmão. Com 15 anos, voltei para o norte do Paraná, para estudar Teologia, num colégio interno, ficando dois anos em Arapongas, transferi-me para Londrina, onde dei prosseguimento aos estudos, concluindo, também o ensino médio e retornei para Joinville, onde cursei a faculdade de Pedagogia.
Depois de trabalhar vários anos nas cidades circunvizinhas, mudei-me para Florianópolis, em 2003. Atualmente, moro no norte da ilha, na praia de Canasvieiras, onde sou muito feliz e não penso mais em sair daqui.
                                             Vilma Ferreira Bueno (62 anos)


Florianópolis, 10 de abril de 2016.
Caros Calouros,

Florianópolis é a cidade natal de meu pai e após sua aposentadoria, retornou com sua família para sua tão amada terra.
Floripa já era íntima, porque era aqui que passávamos nossas férias. Belas praias, natureza exuberante, tão bem cantada no Rancho de Amor à Ilha.
Sou apaixonada por esta ilha e não me imagino longe daqui.
Muito levei filhos adolescentes para surfarem nas ondas da Joaquina, Praia Mole, Santinho...
E me encanto em visitar as praias que ainda trazem nas suas construções o registro do açoriano que o tempo não apagou.
Cacupé, Santo Antônio de Lisboa, Sambaqui, maravilhoso o pôr do sol, que mais parecem quadros pintados à mão, de tão linda que são as imagens.
Ribeirão da Ilha, com a sua vila açoriana, que é uma volta ao passado.
Floripa uma linda ilha.
Floripa um pedacinho do paraíso...
Longe de casa, mas perto do paraíso... 
Aqui estou em Floripa, residindo há 41 anos.
                                                         Dulcirene (57 anos).


Florianópolis, 15 de abril de 2016.
Caros Novos Florianopolitanos,

Longe de casa, perto da natureza exuberante da Ilha de Florianópolis!
Lugar mágico que me trouxe para perto de mim mesma.
Eu, paulista, paulistana, que não conseguia me imaginar viver em outro lugar, que são fosse a capital de São Paulo, onde tinha à disposição cinemas, teatros, compras, restaurantes, trabalho e áreas de lazer para poder escolher...
Creio que, ao visitar esta Ilha, fui enfeitiçada por ela, que me fez sonhar em viver aqui com minha família.
Ela é muito importante em minha história, porque foi através dela que resgatei o amor e confiança de minha filha, solidifiquei o amor e a cumplicidade com meu grande amor, e criei aqui, desde pequenino, o fruto dessa união.
Aqui também, fui ao fundo de mim mesma e estou conquistando o autoconhecimento, fundamental para a atual fase de minha existência.
Longe de casa e perto de mim mesma!
                                               Sandra Lúcia (56 anos).


Florianópolis 20 de abril de 2016.
Caros Calouros,

Gostaria de falar um pouco da minha experiência de vida como moradora de Florianópolis.
Nasci aqui nesta linda cidade há cinquenta anos atrás: no tempo em que ainda nem passava ônibus no bairro onde minha mãe estava quando chegou a hora de eu vir para este mundo. Meu avô levou minha mãe de carroça com cavalos até a maternidade Carmela Dutra.
Onde meus pais moravam nem carro de cavalos havia. Ainda nos dias de hoje só a pé e de bicicleta.
Meu pai era da Costa da Lagoa e minha mãe de Ratones onde estava com meus avós no momento em que resolvi nascer.
Hoje agradeço a Deus que o progresso ainda não chegou neste lindo lugar que ainda se encontra belo e com qualidade de vida junto à natureza. Para chegar lá, precisamos atravessar de barco ou fazer caminhadas pelas trilhas da Lagoa para a Costa ou de Ratones para a Costa da Lagoa.
O cenário ao longo do caminho é um espetáculo!
A trilha que vai de Ratones para a Costa da Lagoa é maravilhosa de tirar o fôlego (não digo de cansaço, mas de exuberante)! É linda mesmo... Podemos contemplar as praias da Barra da Lagoa, Galheta, Praia Mole, Joaquina e Lagoa da Conceição.
Aos quatro anos de idade, vim morar na Lagoa da Conceição com mais dois irmãos. Hoje somos nove irmãos (graças a Deus todos vivos!).
Naquele tempo: 1969, a Lagoa da Conceição não tinha muitas casas nem restaurantes. Dá para imaginar com era a Lagoa linda e transparente?! Pescávamos camarão com as mãos, de tão limpa que era a água.
Mas ainda temos muitas coisas maravilhosas aqui na ilha de Floripa. Temos a trilha de naufragados que é outro espetáculo! A chegada à praia recompensa a caminhada de 50 minutos.
Gosto de morar aqui no inverno, pois no verão está ficando um pouco tumultuado.
Um beijo e sucesso nas suas escolhas,
                                            Arlete ( 50 anos)


Florianópolis, 19 de abril de 2016.
Caros calouros,

Lembro, como se fosse hoje, o dia em que pela primeira vez passei pela ponte Hercílio Luz, deixava então para trás minha querida cidade de Angelina, onde ficaram meus pais, irmãos e amigos.
Hoje sei que era apenas uma criança de 14 anos que saía do interior e vinha conquistar a capital.
O fascínio pelo novo, a emoção da cidade grande e a saudade de minha família tornaram meu coração um misto de emoções que demorei a compreender.
O cheiro do mar era novidade o barulho e o amontoado de pessoas pelo centro me fascinava e assustava. Sem saber eu era mais uma criança do interior lutando para sobreviver na capital.
Trabalhei muito, do pouco que ganhara sempre reservava algum dinheiro para minha família. Sou a primogênita de uma família com 10 filhos e isto fez com que sentisse o peso da responsabilidade. Sou vitoriosa, em Florianópolis a capital construí uma vida linda, criei minhas filhas e meu neto.
Fiz desta terra o meu lar, todavia jamais me esqueci do verde das matas de Angelina. E até hoje vivo porque dentro de mim existe o equilíbrio do mato e do mar para acalentar minha alma.
VERA (53).


Cara Edna,

escrevemos para deixar retorno do pessoal do Longe de Casa: e agora? O blog NETIATIVO foi visto no último grupo do Longe de Casa. Os estudantes do grupo não desenvolveram escrita, mas desejam agradecer pelo compartilhamento das vivências e pelas palavras carinhosas direcionadas a eles.
Obrigado a todos os participantes da Oficina de Escrita Criativa do NETI!
Atenciosamente,
Elisa e Lara


Atenção em Psicologia
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE)
Universidade Federal de Santa Catarina


Adendo: Rancho de Amor à Ilha. 
Cláudio Alvim Barbosa (Zininho)



sexta-feira, 8 de abril de 2016

As preferidas da Turma da Oficina de Escrita Criativa 2016.1. Edna Domenica Merola.






Caracterização da turma 2016.1 da Oficina de Escrita Criativa
Idade: 78,26 %  têm de 50 a 65 anos. 64,71% assistiu ou ministrou aulas nos últimos 5 anos. 
Vínculo com a cidade: 13,04 % nasceram em Floripa. 86,96 % vieram de fora. 
43,48 % residem em Florianópolis de 37 a 48 anos. 
64,71% assistiu ou ministrou aulas nos últimos 5 anos.

LEITURAS ANTERIORES 
ALUNOS DAS OFICINAS DE ESCRITA CRIATIVA 2016.1

Exercício de Classificação
Trechos dos títulos escolhidos pelos alunos da Oficina 2016.1
Narrativa em 3ª pessoa
MÁRSICO, G. O. Cogumelos de Outono.
“Bernardo não era filho de Boa Vista e, sim, barriga-verde, nascido e criado em Nova Pomerândia, no Vale do Itajaí. E quando fugiu de lá, em 1923, nem olhou para trás. Se olhasse poderia cair em atraso e acabar nas garras de Tio Gonça ‒ o que lhe seria bastante desagradável nas circunstâncias que motivaram o seu gesto. Correu para a estação mais próxima”.
Referência:

http://www.livrariacultura.com.br/p/cogumelos-de-outono-5055901
Narrativa em 3ª pessoa
Gardner, Laurence. A Linhagem do Santo Graal.
“A virgindade física atribuída a Maria se torna ainda menos crível em relação às afirmações católicas dogmáticas que ela "sempre virgem”. Não é segredo que Maria teve outros filhos como se confirma em cada um dos Evangelhos. Em Matheus 13:55 - "Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas?”(MARIA. P 46).
“Embaixo à grande profundidade do Templo de Jerusalém se encontrava o grande complexo do estábulo do rei Salomão, que permanecera selado e intacto desde os tempos bíblicos. O enorme abrigo subterrâneo foi descrito por um Cruzado como um estábulo de magnífica capacidade, tão grande que podia abrigar mais de 2000 cavalos. Abrir esse gigantesco repositório era a missão secreta original dos Cavaleiros Templários, pois São Bernardo sabia que ele continha a riqueza de Jerusalém do Antigo Testamento, incluindo a Arca da Aliança, que por sua vez, continha o maior de todos os tesouros: As Tábuas do Testemunho.” (SANTUÁRIO DA ARCA. P 234).
NOTA: Trechos selecionados pelo leitor Álvaro Frazão de seu exemplar do livro e enviado para o e-mail da editora do blog Netiativo.
Narrativa em 3ª pessoa
AERN, Cecelia. A Vez da minha vida.
“Às vezes é preciso se entregar a alguém para perceber quem você realmente é (p 14).”
“Pela primeira vez na vida, não conseguiu formular um único pensamento” (P 297).
“Era como se, durante toda a sua vida, as pessoas lhe dissessem que o céu era azul e, pela primeira vez, ele realmente levantasse a cabeça e o visse com seus próprios olhos (P 223).”
“Cada segundo deixa uma marca na vida de cada pessoa (P 316)”.
“Eram apenas um truque com a ciência. Um truque com ciência. Consciência (P 293)”.
Referências:
Narrativa em 1ª pessoa
AGOSTINHO. As Confissões.
"Mas que amo eu quando Te amo? Não uma beleza corporal ou uma graça transitória, [...] amo a lua, a voz, o perfume, o alimento e o abraço, quando amo o meu Deus: a luz, a voz, o odor, o alimento, o abraço do homem interior que habita em mim, onde para a minha alma brilha uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não destrói, de onde exala um perfume que o vento não dissipa, onde se saboreia uma comida que o apetite não diminui, onde se estabelece um contato que a sociedade não desfaz. Eis o que amo quando amo o meu Deus." (P 271).
Referências:
Frases dissertativas
AGOSTINHO. As Confissões.
 “... a memória é, por assim dizer, o estômago da alma." (P 281).
 “... o que é suficiente para a saúde é pouco para o prazer." (P 299).
"Curiosos de conhecer a vida alheia, são indolentes em corrigir a própria." (P 266).
Referências:

Discurso dissertativo.
Uso de verbos no infinitivo.
CURY, Augusto. Pais brilhantes, professores fascinantes.
“Bons pais corrigem erros, pais brilhantes ensinam a pensar. Entre corrigir erros e ensinar a pensar existem mais mistérios do que imaginam nossa vã psicologia. Não seja um perito em criticar comportamentos inadequados, seja um perito em fazer seus filhos refletirem. As velhas broncas e os conhecidos sermões definitivamente não funcionam, só desgastam a relação.”
Referências
Narrativa em 1ª pessoa
DUEÑAS, M. O Tempo entre Costuras. “Nunca desmenti nem uma vírgula da imagem que havia se formado de mim... Também não a alimentei: simplesmente me limitei a deixar tudo em suspense, a alimentar a incógnita e me fazer menos concreta, mais indefinida: grande gancho para atrair a curiosidade.”
Eu era céu e as estrelas, a mais bonita, a melhor. Meu cabelo, meu rosto, meus olhos. Minhas mãos, minha boca, minha voz. Eu inteira configurava para ele o insuperável, a fonte de sua alegria.”
“Não me repreendeu nem me pediu que reconsiderasse meus sentimentos. Só pronunciou mais uma frase, lentamente, como se escorresse. ‒ Ele nunca vai amá-la tanto quanto eu.”
“Não era exatamente alegria que eu sentia nos ossos enquanto os últimos raios de sol acompanhavam meus passos de volta para casa. Nem entusiasmo, nem emoção. Talvez a palavra que melhor se encaixasse no sentimento que me invadia fosse orgulho.”
“Mas errei, como quase sempre se erra quando construímos concepções com base no frágil apoio de uma simples ação ou algumas palavras.”
Referências:
Narrativa em 3ª pessoa
EXUPÉRY, Antoine. O Pequeno Príncipe.
O pequeno príncipe atravessou o deserto e encontrou apenas uma flor. Uma flor de três pétalas, uma florzinha insignificante...
‒ Bom dia - disse o príncipe.
‒ Bom dia - disse a flor.
‒ Onde estão os homens? - Perguntou ele educadamente.
A flor, um dia, vira passar uma caravana:
‒ Os homens? Eu creio que existem seis ou sete. Vi-os faz muito tempo. Mas não se pode nunca saber onde se encontram. O vento os leva. Eles não têm raízes. Eles não gostam das raízes.
‒ Adeus - disse o principezinho.
‒ Adeus - disse a flor. 
Referências:
Narrativa em 3ª Pessoa (descrição de personagem)
LLOSA, Mário V. A Guerra do Fim do Mundo.
“O homem era alto e tão magro que parecia estar sempre de perfil. Sua pele era escura, seus ossos, proeminentes, e seus olhos flamejavam com um fogo perpétuo. Usava sandálias de pastor e a túnica roxa [...] Era impossível saber sua idade, sua procedência, sua história, mas havia algo [...] que [...] atraía as pessoas.
Aparecia de repente, a princípio sozinho, sempre a pé, coberto da poeira do caminho, de tantas em tantas semanas, ou meses. Sua silhueta longilínea se recortava na luz crepuscular ou nascente quando atravessava a única rua do povoado, a passos largos, com uma espécie de urgência. [...] Mas ele não comia nem bebia nada antes de chegar à igreja [...]. Começava logo a rezar. Mas não como rezam os outros homens ou mulheres: deitava-se de bruços na terra ou nas pedras ou nas lajes lascadas, bem diante de onde era ou tinha sido ou deveria ser o altar, e orava, às vezes em silêncio, às vezes em voz alta, uma, duas horas, observado com respeito e admiração pelos moradores. Rezava o credo, o pai-nosso e as ave-marias conhecidos, e também outras rezas que ninguém tinha ouvido antes mas que, ao longo dos dias, dos meses, dos anos, as pessoas iriam memorizando. [...]
Só depois de pedir perdão ao Bom Jesus pelo estado de sua casa ele aceitava comer e beber alguma coisa, apenas uma amostra do que os moradores do lugar insistiam em oferecer, mesmo nos anos de escassez.”
Referência:
Narrativa em 1ª pessoa
MARQUES, Garcia. Memórias das minhas putas tristes.
“No dia de meus noventa anos havia acordado, como sempre, às cinco da manhã. Por ser sexta-feira, meu compromisso único era escrever a crônica que é publicada aos domingos no El Diario de La Paz. [...] O tema da crônica daquele dia, é claro, eram os meus noventa anos. Nunca pensei na idade como se pensa numa goteira no teto que indica a quantidade de vida que vai nos restando. Era muito menino quando ouvi dizer que se uma pessoa morre os piolhos incubados no couro cabeludo escapam apavorados pelos travesseiros, para vergonha da família. Isso me impressionou tanto que tosei o coco para ir à escola, e até hoje lavo os escassos fiapos que me restam com sabão medicinal de cinza e ervas milagrosas. Quer dizer, me digo agora, que desde muito menino tive mais bem formado o sentido do pudor social que o da morte.”
Referências:
Narrativa em 3ª Pessoa
(descrição de personagem)
MARQUES, Garcia. Cem Anos de Solidão.
“Remédios, a bela, foi a única que permaneceu imune à peste da companhia bananeira.   Estacou numa adolescência magnífica, cada vez mais impermeável aos formalismos, mais indiferente à malícia e à desconfiança, feliz num mundo próprio de realidades simples. Não entendia por que as mulheres complicavam a vida com camisetas e anáguas, de modo que coseu uma bata de aniagem que enfiava simplesmente pela cabeça e resolvia sem mais trâmites o problema de se vestir, sem desmanchar a impressão de estar nua, que no seu modo de entender as coisas era a única maneira decente de se estar em casa. Amolaram-na tanto para que cortasse o cabelo cascateante que já batia na barriga da perna e para que fizesse um coque preso com pentes e tranças com laços coloridos que simplesmente raspou a cabeça e fez perucas para os santos. O assombroso do seu instinto simplificador era que quanto mais se desembaraçava da moda procurando a comodidade e quanto mais passava por cima dos convencionalismos em obediência à espontaneidade, mais perturbadora   ficava a sua beleza inacreditável e mais provocante o seu comportamento para com os homens.”
Referências:
Trecho dissertativo.
Uso de substantivos abstratos.
MELO, Fábio de. Quem me roubou de mim.
“Quando uma pessoa é sequestrada, o primeiro rompimento se dá com a materialidade de seus significados. Não dormirá em sua casa, [...] Será violentamente exposta a outra realidade que não a sua. O corpo sofrerá a violência de não poder ir e vir. Terá que obedecer às ordens do recém-chegado, daquele que até então não pertencia ao seu mundo.[...] O esquecimento do ser, realidade muito comum nos casos de sequestro do corpo, é uma forma de aniquilamento de nossa condição primeira, nosso estatuto original, e que chamamos de identidade. A identidade nos diz sobre nós mesmos. Diz a nós e aos outros. Há dois aspectos interessantes naidentificação: uma afirmação e uma negação. Identificar-se é um jeito que a pessoa tem de afirmar o que é, mas é também um jeito de afirmar o que não é. Ao identificar-se a pessoa estabelece uma autenticação, mas também uma separação. Ao dizer eu sou isso, naturalmente estou dizendo também que não sou aquilo que negaria o que sou. [...] A identificação é também diferenciação, porque em toda afirmação há sempre uma infinidade de negações latentes.”
Referência:
Narrativa em 1ª pessoa
ZAFÓN, Carlos Ruiz. A sombra do Vento.
Um segredo vale o quanto valem aqueles dos quais temos de guardá-lo. Ao acordar, meu primeiro impulso foi contar sobre a existência do Cemitério dos Livros Esquecidos ao meu melhor amigo. Tomás Aguilar era um amigo de escola que dedicava seu tempo livre e seu talento a inventar uns aparatos bastante engenhosos, mas de pouca aplicação, como o dardo aerostático e o pião dínamo. Ninguém melhor do que Tomás para dividir comigo aquele segredo. Sonhando acordado, eu imaginava meu amigo Tomás e eu munidos de lanternas e bússola, prestes a desvendar os segredos daquela catacumba bibliográfica. Logo, lembrando-me da promessa, decidi que as circunstâncias aconselhavam o que, nos romances de intriga policial, denomina-se outro modus operandi. Ao meio-dia, abordei meu pai para questioná-lo sobre aquele livro [...] Qual não foi minha surpresa ao descobrir que meu pai, livreiro com tradição e bom conhecedor dos catálogos editoriais, nunca tinha ouvido falar de A Sombra do Vento ou de Julián Carax.
Referências:
Discurso dissertativo.
VICENZI, Luciano. Coragem para evoluir.
“A coragem de desafiar paradigmas em busca de soluções criativas, quando assentada no raciocínio aberto e lógico, é a essência do espírito científico. Sem inteligência e coragem, não há evolução.”
Narrativa em 3ª pessoa.
CHRISTIE, Agatha. Assassinato no Expresso do Oriente.
“Nada menos que um telegrama aguarda Hercule Poirot na recepção do hotel em que se hospedaria, na Turquia, requisitando seu retorno imediato a Londres. O detetive belga, então, embarca às pressas no Expresso do Oriente, inesperadamente lotado para aquela época do ano. O trem expresso, porém, é detido a meio caminho da Iugoslávia por uma forte nevasca, e um passageiro com muitos inimigos é brutalmente assassinado durante a madrugada. Caberá a Poirot descobrir quem entre os passageiros teria sido capaz de tamanha atrocidade, antes que o criminoso volte a atacar ou escape de suas mãos.”
Discurso dissertativo. GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional.
"...capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos."


As Músicas Preferidas da turma da Oficina de Escrita Criativa de 2016.1

Leitura e audição de música na praia.
As escolhas musicais da turma 2016.1 concentram-se nas músicas cantadas
Dentre 23 escolhas só uma elegeu uma música orquestrada. Mesmo assim as escolhas foram diversificadas...

As escolhas musicais da turma 2016.1 vão do universal ao local...
Passam pela música clássica: Quatro Estações de Vivaldi.
https://www.youtube.com/watch?v=3xfAL9T_g5U

Recaem no gosto pelo local, passando por Floripa. Zininho (Cláudio Alvim Barbosa). Rancho de amor à Ilha.

Foram escolhidas músicas cantadas em inglês:
Frank Sinatra. New York, New York.
http://www.kboing.com.br/frank-sinatra/1-300571/
Frank Sinatra. My Way.
https://www.letras.mus.br/frank-sinatra/36413/traducao.html
John Lennon. Imagine.


Foram escolhidas as brasileiríssimas:
Martinho da Vila. O Pequeno Burguês.
Pixinguinha. Carinhoso.

Foram escolhidas as músicas populares brasileiras (MPB)...
Vandré. Caminhando e cantando.
Chico Buarque. Construção.
João Bosco e Aldir Blanc. O Bêbado e a Equilibrista
http://aquecendoaescrita.blogspot.com.br/2015/05/o-bebado-e-equilibrista-edna-domenica_16.html


Uma escolha contemplou a composição feminina: Marisa Monte, Ainda Bem!
As escolhas da turma 2016.1 passaram ainda pelo romântico cristão devoto Roberto Carlos...  
A Montanha. Ave Maria. Eu te Amo. Como vai você? 

Passaram ainda por Almir Sater com Tocando em frente
https://www.letras.mus.br/almir-sater/44082/


Caçador de Ilusões. Aviões do Forró


Coração Pirata. Roupa Nova