quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Textos produzidos por Catarina Rosali Borges nas Oficinas de Criação Literária do N.E.T.I.





Catarina Rosali Borges participa das Oficinas de Criação literária do NETI desde agosto de 2016.






Florianópolis, 1 de setembro de 2016.
Acróstico
Carinhosamente nos surpreendeu
Criação de Catarina e outras
Assim de mansinho
Trazendo consigo
Alegria para todos
Relembrar esses momentos
Importantes do
Nascimento nos mostra
A intensidade de Amor e entrega das nossas mães


Florianópolis, 25 de agosto de 2016.
INFÂNCIA

Criança faceira
procura uma companheira
na rua das rendeiras
com muito entusiasmo
ao perceber os pés no lago
esquece sua procura primeira.
Que faz esta criança festeira?
Brincadeiras!


TEXTO PRODUZIDO EM GRUPO CATARIANA, JOSIANE E ÂNGELA TATIANA NA AULA DO DIA 18/08/2016

EMOÇÃO

De pés descalços
cheirando a terra.
Bate forte o coração.
namorado no portão.
Ouço o toque da sineta
e seguro a emoção.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Cartas a quem deseja "seguir" a poesia. Edna Domenica Merola

Nas cartas ficcionais, a seguir, emissores e remetentes (Sonhadora, Semeadora, Responsável pelas Inscrições, Professora, Aluna Beatriz, Futura Aluna) dialogam sobre oficinas literárias e a 'prática' da criatividade como combate ao isolamento existencial para maiores de 50 anos. Explica-se a escolha das anfitriãs das Oficinas de Criação Literária do N.E.T.I. 2016.2: a Poesia e a Dramaturgia. 





Porto Maduro, 01 de setembro de 2016.
Caros alunos,

Tendo por objetivos: constituir o grupo e reconhecer o acróstico como forma poética que explora os recursos gráficos visuais, proponho que cada um faça um acróstico com seu primeiro nome. Para quem não se lembra de como se faz, envio um que foi feito pela Edna (MEROLA).

ACRÓSTICO

Aprenda
Com a visão:
Rever não é
Ócio.
Socializar
Traz parceiros...
Inventar
Com dedicação é
O mister da poesia!

Atenciosamente, a Professora.


Porto Informativo, 12 de julho de 2016.
Cara Responsável pelas inscrições para as Oficinas Literárias,

Meu sonho é escrever pelo menos um poema nesta minha vida que tem sido muito boa... Mas que pode melhorar ainda mais.
Creio que poetas têm um dom especial. Mas pergunto-lhe, mesmo assim: é possível para alguém que nunca escreveu “versinhos” (nem na escola primária) aprender a escrevê-los, num semestre, depois de idosa?
Aguardo sua resposta para decidir se irei ou não me inscrever na Oficina de Criação Literária.
Atenciosamente, a Sonhadora.


Porto Informativo, 13 de julho de 2015.
Olá, Sonhadora,

Passei sua pergunta para a professora e ela me disse que a aprendizagem varia de pessoa para pessoa, mas que eu deveria encorajá-la a participar, desde que você tivesse hábito de ler com frequência. Constata-se que quanto maior a escolaridade mais rápida é a adaptação às tais oficinas. O curso é para quem cursou no mínimo o Ensino Médio. Não será necessário comprovar se o grau escolar foi obtido ou não. Como você sonha em aprender, precisamos mostrar-lhe qual será o grau de desafio, para que você não se desiluda.
Atenciosamente, a Responsável.


Porto Informativo, 14 de julho de 2016.
Cara Professora,

É verdade que os poetas vivem num mundo à parte?
Fernando Pessoa escreveu na primeira estrofe do poema Autopsicografia: 

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Se os poetas fingem a dor, será que fingem também o amor que declaram às suas musas? 
Beatriz.


Porto Informativo, 15 de julho de 2016.
Cara aluna Beatriz,

“O poeta é um fingidor” já que não relata fatos autobiográficos, mas representa a dor humana e a transcreve em forma de texto poético. O leitor, por sua vez acreditará que o poeta simplesmente imaginou “A dor que deveras sente”.
Fernando Pessoa explicou que os poetas se despersonalizam como numa representação teatral:
O ponto central da minha personalidade como artista é que sou um poeta dramático; tenho continuamente, em tudo quanto escrevo, a exaltação íntima do poeta e a despersonalização do dramaturgo. Voo outro ‒ eis tudo. (PESSOA, 1935).
Beatriz: musa de Dante
Os nomes das musas não têm a ver com a vida íntima dos poetas. Por exemplo, as musas dos poetas do arcadismo (século XVIII) foram copiadas dos poetas da Antiguidade Clássica (século VIII A.C. ao séc. V D.C.). 
Há uma tradição de copiar nomes de musas, até hoje. Consegue lembrar quantas personagens Beatriz houve nas novelas televisivas? Sabia que Beatriz era o nome da musa de Dante Alighieri? (1265-1321).
E nós brasileiros temos o privilégio de termos a Beatriz de Chico e Edu e ainda na voz do Milton... Disponível em:
https://www.youtube.com/ watch?v=9QBWD7gEbIY

Huizinga. 1872-1945. 
Por ser um dos gêneros literários, a poesia é uma atividade arquetípica, cuja tônica é o jogo. 
Huizinga afirmou:
Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza. As grandes atividades arquetípicas da sociedade humana são, desde início, inteiramente marcadas pelo jogo. (HUIZINGA, 2000, p 7).

Portanto, a palavra é abstração; é representação daquilo que é imaginado e expresso pela linguagem metafórica (poética) ou pelo jogo de/com 'palavras'. Esse jogo peculiar está implícito na poesia e no teatro
O poeta cria o "eu lírico", inventa a musa, idealiza o amor, imagina um estado poético e o expressa num poema para o deleite da leitora.
Atenciosamente, a Professora

Porto Informativo, 18 de julho de 2016.
Professora das Oficinas de Criação Literária,

Poderia antecipar algo sobre as Oficinas do próximo semestre?
Abraço, da Futura Aluna.


Porto Informativo, 19 de julho de 2016.
Cara Futura Aluna,

Anteciparei algo sobre a metodologia adotada e seus fundamentos; os objetivos e proposta de curso para o semestre vindouro. 
Considerando que a palavra é abstração → metáfora → jogo (teatro) → poesia, a metodologia adotada nas Oficinas Literárias do NETI é lúdica. 
O uso do jogo didático aqui referido é uma interpretação do psicodrama sob um enfoque histórico-cultural. 
J. L. Moreno (1899- 1974)

Moreno identificou três fases no desenvolvimento de um papel: a primeira que é a tomada de um papel; a segunda que é a fase em que se joga o papel e a terceira que ocorre quando se cria sobre o papel. Quanto mais desenvolvido for o papel, maior será a espontaneidade que ele apresenta, ou seja, maior a capacidade de dar respostas novas a situações novas ou respostas adequadas a situações velhas. 
O fator espontaneidade é passível de desenvolvimento na interação com os colegas de aprendizagem, dadas as circunstâncias estabelecidas pelos contextos, instrumentos e etapas do jogo dramático que configuram a atividade como vivência de teor ético e estético. O jogo ou desempenho de papéis depende naturalmente de interações potenciais de um grupo. 
O empobrecimento das relações em pessoas idosas pode estar associado ao isolamento que ocorre de diferentes formas
Irvin D. Yalom
I. Yalon. Washington, 1931

"O isolamento interpessoal refere-se ao abismo entre o sujeito e os outros. É vivenciado como solidão e pode ser melhorado por uma capacidade maior de criar e manter a intimidade com terceiros.” (YALOM, 2009, p. 37‒38).
Mais grave do que a solidão é o isolamento existencial: “refere-se a um abismo intransponível não apenas entre o eu e qualquer outro ser, mas também entre o eu e o mundo.” (YALOM, 2009, p. 38). 
Uma das evidências do isolamento existencial seria a baixa frequência de comportamentos criativos. Portanto, tratar do isolamento significa cuidar da criatividade.
Moreno (1978) considera que o ato criador está no processo da criação artística ou científica e não em seu produto que passa a ser conserva-cultural. Com o desenvolvimento da tecnologia, os cidadãos comuns substituíram "a onipresença no espaço pelo poder no espaço", e a onipresença temporal pelo poder no tempo, decorrente de "tudo aquilo que pertence à cultura e cuja repetição é desprovida de espontaneidade". No entanto, "a conserva-cultural só é de ajuda quando o indivíduo vive num mundo relativamente estável". O fortalecimento das possibilidades pessoais conta com o exercício da "espontaneidade".
As respostas existenciais espontâneas facultam em relação aos papéis, segundo categorias apontadas por Sene Costa (1998): "tomar, aceitar, assumir ou adotar, desempenhar, jogar ou representar, criar ou reformular, desenvolver, recuperar, escolher, conquistar ou ganhar, ampliar".
Nas Oficinas de Criação Literária 2016.2, o papel de "eu lírico" será estimulado com o intuito de criar o papel de poeta. Já o teatro será a forma de desempenhar, representar e ampliar esse papel. 
Atenciosamente, a Professora.


REFERÊNCIAS

MEROLA, Edna Domenica. Pedagogia do Psicodrama: a ação do grupo no desenvolvimento de papéis da pessoa idosa. Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa. Orientadora: Maria Celina da Silva Crema. UFSC, CCS, N.E.T.I., 2015, 46 f.
____________ Cartas em Posfácio. In Diálogos da Maturidade. Postmix, 2016.

MORENO, J.L. Psicodrama. 2 ed, São Paulo: Cultrix, 1978.

SENE COSTA, E. Gerontodrama: a velhice em cena. (Estudos clínicos e psicodramáticos sobre o envelhecimento e a terceira idade.). São Paulo: Ágora. 1998.

YALOM, I. D. Vou Chamar a Polícia: e outras histórias de terapia e literatura. Rio de Janeiro: Agir, 2009.

Textos produzidos por Maria Antonia Mendes (Toinha), nas Oficinas de Criação Literária do N.E.T.I./UFSC

Maria Antonia tem 79 anos, reside há seis anos em Florianópolis. Estudou durante 30 anos. O último ano de ensino formal foi 1995. Em 2015, ingressou no NETI.
O livro preferido é A Menina que Roubava Livros (de Markus Zuzak). Sua música preferida é Pra não dizer que não falei de flores. Antonia participou da XV SEPEX/UFSC (2016) e assim avaliou: "A oficina de criação literária do NETI mereceu destaque sob a coordenação da professora Edna Merola. O objetivo foi mostrar ao público presente, de forma interativa, um recorte das oficinas de poesia. O interessante foi que a comunidade presente participou ativamente dos exercícios, junto aos alunos e à professora. Foi um trabalho muito rico que divulgou de maneira muito positiva as atividades do NETI".


MULHER


Numa noite plácida e divina
Dormia a natureza em seu leito
E o céu iluminado de estrelas
Inspirou a criação de um ser perfeito.

O alvorecer acordou a natureza.
Que de um impulso a deixou de pé.
Lembrou-se do seu sonho iluminado,
E criou a figura da mulher.

Poderosa criadora,
Cheia de graça e beleza,
Pois a mulher que criou,
Confunde-se com a natureza.

Como e capaz de existir 
Perfeição além dos céus?
Como disse Castro Alves:
Amar-te é melhor do que ser Deus.


Beira de Estrada

Viajando para o sul,
Já à noite e bem cansada,
Fui me hospedar num hotel
Ou pensão de beira estrada.

Havia um grande rol,
Na entrada da pensão,
A metade era coberta
E tinha uma televisão.

O recepcionista, sem senões,
Um rapazinho pacato,
Foi dando as informações
E nos levando pros quartos.

Lá fomos envolvidos
Com abraço acalorado
Lá não penetrava o sol
E o calor era dobrado.

Tinha um fedor de mofo
Ali ele fez a festa!
Pois o teto era encharcado
E pingava em nossa testa!

Eu estava com suporte
Eram oito pessoas agora.
Dois carros tiveram sorte,
Porque dormiram lá fora.

Essas coisas valem a pena
Quando não se tem dinheiro,
A gente sai bem cedinho
E nem olha pro porteiro.

Para minha netinha,           
     
O grande prazer da vida,
É vivê-la intensamente
E com os nossos amores
Espalhar nossa semente.

Brotam flores tão singelas!
E quando a primavera avança,
Os frutos que amadurecem
Tem gosto de uma criança.

Vamos festejar este fim,
De ano bem turbulento!
E esperar que o próximo,
Traga menos desalento.

Desejo a todos que haja uma grande mudança de atitude na mentalidade política do povo brasileiro.



Para Luciano

Amor que mãe tem por filho
É sentimento irrestrito.
Quanto mais na vida cresce,
Mais se torna infinito.

Dizem que vem do sangue
Pode ser verdade sim.
Tirando o sangue do corpo
Será que ele chega ao fim?

Acho que mesmo assim,
Esse fim nunca se dá.
Porque sei que este amor,
Está no DNA.


Para Marcelo,

Nossa maior sorte,
É ter sorte de nascer.
Agora depende de nossa
Ações pra sobreviver.

Carregados de coragem,
Fé, pensamento e ação,
Só que precisamos muito,
De controle da emoção.

Nossa cabeça pensante,
Tem pensamentos fecundos
Nem sempre o que é bom pra nós,
É bom pra todo mundo.

Mas nós somos carregados,
De muita bondade escondida.
Elas têm que vir na frente,
Das ações em nossas vidas.

Nas carruagens da vida,
Levamos nossas bagagens.
Nos lugares que chegamos,
Deixamos nossas imagens.

Você é uma pessoa muito querida.

Sorte e coragem, em sua vida!

Florianópolis, 27 de outubro de 2016.
Nunca andei sozinha no mundo. Cada ser que me encontrava se juntava a mim. Andei por vales e rios, cachoeiras e cascatas, cavernas escuras, ou em cima d'água. Animais peçonhentos, passei por cima. Caminhos tortuosos por onde andei sempre teve uma chegada. Lugares distantes, bonitos ou feios. Via tudo com clareza, distinguia as cores, texturas, leveza ou dureza. De tudo eu levava amostras. Nada foi jogado fora. De tudo precisei para crescer na vida. Tive tudo o que queria, porque só queria o que podia. Sonhava com as coisas mais simples. Mas nem pensem que foi fácil. Foi tudo a base de sangue, suor e lágrimas. O que se pode e o que se sonha não quer dizer que é fácil. Mede-se pela capacidade. O que para mim era inatingível para outros era jogado fora. Sai de um lugar finito para um infinito, onde as pessoas diante de mim sabiam tudo. Fechava os olhos e andava só com força e coragem. Foram anos que andei assim. Quando me dei conta, já havia feito tudo o que a vida pediu.


Criação de Maria Antonia e outros


Florianópolis, 1 de setembro de 2016.
O que ouvi da minha mãe quando nasci
Dorme, você nasceu.
Seu nome é nome de santo.
Eu escolhi esse nome
Pra brilhar o seu encanto.



Antonia


Andando sempre se chega,
Nasce-se pra se viver, em
Todas as etapas da vida,
Ondas vão aparecer.
Nunca despreze nada,
Ilhada ou constrangida,
Ame o que conseguir na vida.


Florianópolis, 21 de agosto de 2016.
DESCONCENTRAÇÃO

Por um momento apenas
Roubada a sua atenção
Estava na sua antena,
Uma grande previsão.

Ia ser grande a conquista
Nesse imenso pavilhão.
Já próximo da finalista,
E por um desvio de atenção,

Que tristeza infinita
E por um piscar de olhos,
Foi se embora o medalhão!
Só por desvio de atenção...



Florianópolis, 14 de junho de 2016.
Texto para Teatro de Objetos com Coro.

CORO:
Quem não se comunica se trombica!

SINO
Gatinho preto por que você está sentado em cima desta história?

O PINTALGATO
Estou sentado dentro de um calhambeque, me protegendo do escuro.

CORO:

O calhambeque mais que depressa abriu a porta e o Pintalgato caiu na noite escura. Ele não sabia que o gatinho preto estava se aproveitando dele para desobedecer a uma ordem de sua mãe. Não perguntou! Quem não se comunica se trombica!


Florianópolis, 12 de junho de 2016.
Festa de São João

Uma família muito divertida se reuniu para fazer uma festa de São João. A ideia foi do Senhor Milho Verde, que convidou seu irmão Amendoim para participar do evento. Falou com Sr. Madeira para preparar uma fogueira. D. Pólvora fez os fogos: traque foguete bomba, busca-pé.
O salão da festa era o Arraial.
A mulher do Sr Milho verde, d. Pamonha ficou responsável pela comida e bebida da festa. Também fizeram parte da equipe o irmão de D. Pamonha, Bolo de Milho e seu filho Lele.
Canjica a filha mais velha do casal ficou responsável pela coordenação da festa. Laranja, tangerina, limão, farinha de tapioca vieram de outras localidades próximas para abrilhantarem a festa.
Bebidas especiais são servidas nas festas de São João. E ninguém melhor do que Senhor Jenipapo, dona Pitanga, a garota Laranja, a sapeca gengibre e a colorida Tangerina para preparar os deliciosos licores, tão apreciados nesses festejos.
A festa ainda não estava completa. Faltavam seus animadores e consumidores.
Ainda na roça viram um ser estranho que se aproximavam das plantações e parecia conversar com cada uma delas, amavelmente. E foi assim que tiveram a ideia de convidá-lo para a festa. Bastou chamar um para encher o arraial. Não faltou sanfona, pandeiro, zabumba e triângulo. A festa durou enquanto estávamos vivos. 
Daí não soubemos como foi o final dela. Alguns dias depois, quem ficou na roça ouviu comentários que a festa só acabou quando não havia mais o que comer, nem beber. E que todos saíram desfigurados.

Florianópolis, 15 de maio de 2016.
Ao meu querido neto Gabriel,

Apesar de vivermos distantes, as notícias sobre você me chegam constantemente.
O pai de sua namorada foi para os EE. UU.,para trabalhar por falta de opção aqui no Brasil.
Vai também levar a família. São três filhos e a esposa, todos em situação irregular naquele país.
Sua namorada tem 17 anos e é totalmente dependente dos pais. Soube que ela pretende ficar, alugar um apartamento, morar com uma amiga e dividir o aluguel. Como ela é muito dependente, parece que os pais não vão aceitar essa proposta. Portanto ela deve ir. Imagino como sua cabeça está a mil por hora! Está pensando também em ir com ela não é?
Você igualmente à sua namorada é totalmente dependente de seus pais. Estuda numa universidade particular e não tem renda alguma, apesar de já estar com 19 anos.
Não acha que deve pensar numa nova forma de organizar sua vida para tomar uma decisão mais acertada?
As precipitações impensadas quase sempre são desastrosas. Não desejo isto para o meu neto.
Pense muito e me responda. Quero lhe ver feliz porque te amo.
Abraço, Maria Antonia.


Salvador, 18 de maio de 2016.
Minha querida vovó Toinha,
     
Recebi sua carta e fiquei surpreso pela rapidez com que você é informada sobre a minha vida. Gosto até de você saber tudo sobre mim, porque seus conselhos me levam a pensar.
Só me admiro com a eficiência dos informantes. Seus palpites são importantes para serem avaliados por mim. Mas desta vez vou enfrentar os meus impulsos, já que meu pai não me mega apoio, mesmo desejando que eu pense o contrário.
Eu quero ir com minha namorada para os EEUU. Vou enfrentar os desafios e tentar trabalhar e estudar. Acho que meu pai vai me ajudar com um pouco de grana para os estudos. O resto vou me manter trabalhando.
Por enquanto essa é a maneira que estou pensando para me organizar nessa tomada de decisão. Agradeço seu interesse pela minha felicidade.

 Um grande abraço do seu neto, Gabriel.


Florianópolis, 12 de maio de 2016.

Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada
Ou quase nada.
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada
Não deu em nada.
Caminhando contra o vento
Sem lenço sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa pátria, Mãe gentil
Choram Marias e Clarices
No solo do Brasil!

                                                                                     
Florianópolis, 07 de maio de 2016.
1962, 1967, 1979


1962.
Que país é esse nosso,
que vive feliz assim,
misturando futebol,
com política tão ruim?
Mas gosta também de música Beatles,
Bossa Nova, tudo em fim.
Existe tempo ruim,
para um Brasil assim?

Em 1967:
Meu país estava triste,
a revolta foi geral.
Em vez de presidente,
quem governa é marechal.

Com o tal do marechal,
a coisa ficou bem feia.
O cidadão que reclama,
É levado pra cadeia

Ninguém podia falar.
Nem escrever, nem cantar.
Tudo era censurado...
Oh! Terrível militar!

1979:
Ninguém aguentava mais
tanto tempo de angústia.
Foi aí que Figueiredo,
decretou a anistia.

Acho que teve medo
da revolta popular.
Mesmo ameaçando o povo
resolveu anistiar.

Falou que quem fosse contra
àquele tipo de anistia,
prendia e arrebentava,
sem nenhuma cortesia

(Sofri muito nesse tempo).


 Florianópolis, 22 de abril de 2016.

As recordações evocadas pelos anos em que começou a trabalhar informalmente e pelo ano em que teve o seu primeiro emprego formal levaram Maria Antonia a escrever sobre a moeda brasileira, sem se lembrar qual era o seu nome. Ao pesquisar, constata-se que em 1959 e em 1963 era o cruzeiro. O esquecimento dela é natural, já que conheceu várias moedas no decorrer de sua vida: cruzeiro,  cruzeiro novo, cruzado, cruzado novo, cruzeiro real, real...
Leia sobre o dinheiro que circulou no Brasil de 1959 até hoje, pelo link:
Irá perceber que a história narrada por Maria Antonia é bem interessante!

Fatos marcantes da minha vida...

Um dia em 1959, ainda como estudante do curso pedagógico, fui convidada para dar aula de religião, numa escola de uma amiga. O salário oferecido foi de $0,50 ( cinquenta centavos por mês, uma aula por semana). Que coisa boa! Naquela época, consegui comprar um guarda-roupa, um ferro elétrico e ainda sobrou um trocado para o transporte do primeiro mês. Esse emprego rolou por mais ou menos um ano. Perdi o emprego quando entrei na faculdade (por falta de tempo).
Comecei um emprego formal em 1963, antes de terminar meus estudos. Sai da capital,fui para o interior. Lá eu recebia quase $ 2.000,00. Sabe qual foi a diferença sentida em relação ao outro salário?
1000 Cruzeiros - 1963 - Brasil Moedas - AnversoNo primeiro salário de $0,50 não pagava aluguel, tinha onde comer, vivia de farda. No outro, tinha que comprar comida, pagar aluguel, comprar roupa e muitas coisas mais.
1000 Cruzeiros - 1963 - Brasil Moedas - AnversoAno em que me apaixonei... A adolescência é um caso sério. Apaixona-se a cada instante e por qualquer motivo. Não é fácil lembrar em que ano se deu a primeira paixão. É mais fácil lembrar-se da paixão mais forte e marcante da vida. Casei com a primeira forte, em 1966. Como não se deve casar com paixão ela acabou cinco anos depois, mas só fui me livrar dela oito anos depois. Continuei, mesmo depois de casada, a me apaixonar e alimentar meu ego por atitudes românticas.
Em 1968, tive meu primeiro filho, época tumultuada em que eu não estava bem nem com minha paixão (marido), nem com o meu país. Foi difícil, mas se criou...
Ano em que fiz algo considerado útil... Vim da Bahia para Florianópolis em 2009, por opção  própria.Tenham certeza de que não foi fácil essa tomada de atitude. Com a idade avançada, 72 anos (na época) abandonando toda uma vivência em território distante e com características diferentes (climas, costumes, pessoas, etc.), pensei em ficar num lugar mais seguro, perto de um filho, acompanhada do meu espírito aventureiro,vendi o que tinha,preparei a mudança e aqui estou feliz da vida!